Europa/Eleições França: VITÓRIA DA DIREITA POPULISTA AUMENTA TODOS OS TIPOS DE RACISMO – diz a Comissão dos Direitos do Homem
As políticas de anti-imigração promovidas pela extrema-direita em França, que lidera as eleições gerais naquele país, estão a contribuir para um aumento do racismo em todo o país, segundo um relatório da comissão nacional dos direitos humanos.
Após o ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro do ano passado, o relatório concluiu que houve um aumento de 284% nos ataques antissemitas, enquanto a tolerância está a “diminuir em relação a todas as minorias”.
Publicado antes da primeira volta das eleições antecipadas, no fim de semana, em que a extrema-direita do Rally Nacional (RN) assumiu a liderança, o relatório alerta para a tendência europeia para uma política de extrema-direita em detrimento da “igualdade, fraternidade e liberdade”.
As eleições antecipadas foram convocadas pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, depois de o RN ter obtido mais de 30% dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu, no início de junho, derrotando a aliança centrista de Macron. No domingo, as sondagens à boca das urnas mostraram que o Rally Nacional obteve 34,5% dos votos.
O RN, com a sua figura de proa Marine Le Pen, está a concorrer com uma plataforma que propõe restringir os direitos dos imigrantes em França. Entre as suas políticas está o plano de “preferência nacional”, que daria prioridade aos nascidos em França quando procurassem emprego ou benefícios sociais.
Embora o relatório da Comissão dos Direitos do Homem tenha constatado que 69% dos inquiridos não apoiam o plano de “preferência nacional” do RN, acrescentou que o apoio mais alargado ao RN permitiu que as suas políticas mais extremas influenciassem a legislação. O relatório afirma que uma lei de imigração proposta pelo governo em fevereiro de 2023 “contém ecos da ‘preferência nacional’, acrescentando que os debates em torno da mesma amplificaram esta tendência xenófoba”.
A política de “preferência nacional”, segundo o relatório, está em “oposição frontal aos princípios de igualdade, fraternidade e liberdade” consagrados na Constituição francesa e irá encorajar opiniões racistas.
De acordo com o relatório, 51% dos inquiridos da população em geral afirmaram que já não se sentem em casa em França, em comparação com 43% dos cidadãos franceses no ano passado. A Comissão considera que este aumento está ligado a uma rejeição da imigração, agravada pela proeminência da extrema-direita. O apoio a este sentimento aumenta para 91% entre os apoiantes do RN, segundo o relatório.
Quando questionados sobre o que estava a causar a insegurança nacional, os autores do relatório descobriram que 43% dos residentes franceses culpavam a imigração, em comparação com 83% dos apoiantes da RN.
O líder do partido, Jordan Bardella, de 28 anos, comprometeu-se a “restaurar a fé em França e na sua grandeza” num discurso público recente, sugerindo que é necessária uma “batalha cultural” para o conseguir.
Em entrevista ao jornal regional Le Telegramme de Brest, publicada na passada quinta-feira, Le Pen afirmou que “a imigração é o elefante da França”: “A imigração é o elefante na sala. Não sabemos quanto é que custa”.
Se o RN se tornar o maior partido no parlamento após estas eleições, que se realizam em duas voltas a 30 de junho e 7 de julho, Bardella poderá assumir o papel de primeiro-ministro francês num acordo de partilha de poder conhecido como “coabitação” com Macron. A França teve três períodos de “coabitação” – quando o presidente e o governo eram de campos políticos opostos – na sua história do pós-guerra.
“O Presidente da República compreendeu que não tem grande escolha quanto à escolha do primeiro-ministro, uma vez que Jordan Bardella terá um mandato do povo francês”, afirmou Le Pen ao Le Telegramme de Brest.
As sondagens de opinião sugerem consistentemente que o RN anti-imigração e eurocético tem uma liderança confortável, com uma coligação de esquerda em segundo lugar e os centristas de Macron em terceiro. No entanto, a grande incógnita é se o RN consegue obter uma maioria absoluta de 289 lugares ou mais na Assembleia Nacional. A última sondagem, publicada na quarta-feira pelo Ifop, previa que o RN e os seus aliados conseguiriam 220 a 260 lugares.
Le Pen previu que Macron iria sentir-se desconfortável, chegando mesmo a insinuar que ele poderia desistir mais cedo.
“Não sei qual será a reação dele. Dada a sua arrogância, será que vai aguentar isto durante muito tempo?”
Le Pen parece também sugerir que Bardella, enquanto primeiro-ministro, irá também assumir pelo menos algumas decisões sobre a defesa de França e as suas forças armadas. “Para o Presidente, ser chefe das Forças Armadas é um título honorífico, uma vez que é o Primeiro-Ministro que detém os cordões à bolsa”, afirmou.
O ministro da Defesa, Sebastien Lecornu, ripostou. “A Constituição não é honorífica”, afirmou numa publicação no X, antigo Twitter, citando um discurso de 1962 do então presidente Charles de Gaulle sobre os amplos poderes do chefe de Estado.
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Noel Barrot, disse ao canal de televisão TF: “Que é pura arrogância de Marine Le Pen considerar que a RN já ganhou as eleições”.
Para já, vai haver a segunda ronda, no próximo domingo, das eleições e só então saberemos os resultados finais destas eleições. Hoje e amanhã ainda podem surgir mais frentes unidas, entre os partidos ma corrida, a concorrer, que podem mudar os resultados desta primeira volta.