ONDE É QUE VAMOS PARAR? QUAL É O LIMITE?
É certo e sabido que o desporto envolve muitas emoções e muitas rivalidades, mas infelizmente, cada vez mais se tem vindo a dar conta de que jogadores, dirigentes e adeptos ultrapassam o bom senso da palavra “rivalidade” e partem para o confronto físico e verbal, algo que coloca em causa o desportivismo e o que supostamente deveria ser um espetáculo atrativo e emocionante para todas as partes envolvidas.
Será necessária uma intervenção mais dura e uma legislação mais pesada para quem ultrapassa as medidas do aceitável?
São já conhecidos vários casos, em Portugal e não só, de violência no desporto, de confrontos físicos, de conflitos, de ataques entre adeptos, dirigentes, jogadores…e de atitudes de racismo e discriminação.
Não apenas no futebol, esta onda de negativismo e de desacatos tem-se alastrado a outras modalidades, como o hóquei em patins, basquetebol, futsal, entre outras. Um mau exemplo para quem assiste, para os mais jovens, para os clubes e para o desenvolvimento das modalidades e do desporto em si.
As cenas vergonhosas e lamentáveis que têm acontecido nos últimos tempos não são uma representação nem um espelho daquilo que é o desporto. No entanto, esta onda negativa só mancha o trabalho que tem sido desenvolvido por todas as entidades desportivas e legislativas que, no entanto, é extremamente insuficiente para combater esta subida de violência.
É importante haver educação, ações de sensibilização e leis para punir quem tão insistentemente denigre a imagem do desporto, fazendo com que cada vez mais as pessoas tenham receio de irem assistir a um jogo, a um treino, apenas por medo.
O desporto é para todos, é inclusivo e deve ser respeitado por todos, independentemente do clube, da nacionalidade, da cor da pele, da idade, do género, da orientação sexual.
É impensável que ainda haja condenações por racismo e por discriminação a esta altura do campeonato. Parece que as pessoas não aprendem com os erros e não atingem um certo patamar de bom senso e de respeito pelo outro.
Não temos que gostar todos do mesmo, é assim que funciona tudo na vida, não só no desporto. Defendermos e apoiarmos o que gostamos é uma coisa. Atacar o que não gostamos é outra bem diferente. Podemos apoiar o nosso clube, o nosso partido político, a nossa religião, a nossa crença…e até podemos nem gostar dos outros clubes, dos outros partidos políticos, das outras religiões…podemos até nem gostar das pessoas. Agora, não gostar é uma coisa, desrespeitar e partir para a violência, para o racismo e para a discriminação é outra. Já não estamos a falar de gostos, já estamos a falar de educação e de respeito.
É importante chegarmos ao ponto, como sociedade, em que toleramos e aceitamos que os outros gostem de coisas diferentes das que nós gostamos.
As sociedades desenvolveram-se ao longo dos séculos, ao longo dos anos. Especialmente no Ocidente, não vivemos em regimes ditatoriais em que não há direitos nem liberdades individuais e coletivas como é o caso de países do Médio Oriente/Ásia (Arábia Saudita, Qatar, Afeganistão, Síria, República Popular Democrática da Coreia, Iraque, Rússia…e a lista podia continuar). Vivemos em democracias liberais e, como tal, não devemos nem podemos condenar o que se passa no país dos outros e ter atitudes idênticas no nosso, reprovando que quem não gosta do mesmo que nós seja punido física e verbalmente. Está na altura de darmos um passo em frente e comportarmo-nos como países/sociedades desenvolvidas e civilizadas.
Como é que ainda se fazem leis em que se colocam “termos de identidade e residência” a um racista, a quem violentamente agride outro porque este(a) representa um clube diferente? Como é que ainda se aceitam claques desportivas em que os constituintes fazem o que querem e saem impunes porque existe o medo da repercussão ou da vingança? Como é que ainda se punem clubes, jogadores e dirigentes com um e dois jogos de castigo, com 500€ de multa por violência, comentários racistas e discriminatórios?
Estamos a criar uma sociedade onde o medo passa a governar e as entidades competentes são atores passivos.
Basta olharmos para o que é nosso e respondermos a algumas questões bem simples para começarmos a desenvolver atitudes de não-violência, seja ela física ou verbal.
1 – Gostaria que os seus fossem alvo de insultos racistas e discriminatórios? Se a resposta é não, então talvez fosse boa ideia não o fazer com os outros.
2 – Gostaria que os seus fossem alvo de ataques de violência porque representam um clube diferente, uma religião diferente, um género diferente, uma cor diferente, uma orientação sexual diferente? Se a resposta é não, então vamos respeitar.
E mesmo que a resposta a estas questões seja afirmativa da nossa parte, não há direitos em recriminar o que é diferente.
Por isso sim, as intervenções a serem feitas e a legislação devem ser mais pesadas e mais duras para quem insiste na violência, no racismo e na discriminação, pois se continuamos, enquanto sociedade, governantes e legisladores, a compactuar com este tipo de situações, o futuro, seja ele do desporto ou não, será tudo menos brilhante.
Estamos em 2022 e ainda temos tanto para crescer enquanto sociedade…e não só desportiva.Não ao racismo, não à discriminação, não à violência. Tolerância zero!