CRÍTICAS E ELOGIOS

Que me lembre, só ainda tinha ouvido o treinador de futebol Manuel José criticar abertamente Cristiano Ronaldo. Confesso que não recordo o motivo (lembro-me vagamente de Manuel José ter chamado prima donna ao Ronaldo), nem o programa ou o canal onde o “desbocado” Manuel José terá tecido essas críticas – na altura, também o recordo, muitos o classificaram de doido, de fala-barato, de não perceber nada de futebol, de arruaceiro… eu sei lá, o homem foi zurzido pela generalidade dos portugueses que continuam a ver Cristiano Ronaldo para lá de um excelente jogador de futebol. Quando joga bem, claro…

Pois ontem, frente à Turquia, Ronaldo pouco ou nada fez – o único instante para mais tarde recordar terá sido aquele remate à barra, quando, dada a sua apregoada e reconhecida classe, deveria ter introduzido a bola na baliza turca. Resumindo: Ronaldo fez um jogo fraco… mas após o encontro só ouvi um comentador com coragem suficiente para desmistificar a fraca prestação do adorado craque da bola. De facto, criticaram-se vários jogadores em variados painéis, mas só na TVI o comentador Luís Aguilar assumiu aquilo que todos vimos – mas que muito poucos são capazes de criticar. Agora, alguns dirão que o comentador é lampião, daí a sua aversão a um jogador que já foi do Sporting – é esta a nossa mentalidade clubística que mistura selecção com clubes, sem entender que os jogadores, quando estão ao serviço de Portugal, deixam de ser do Benfica, do Sporting ou do FC Porto e passam a ser os jogadores de todos nós!

Fernando Santos, o selecionador e amigo do Ronaldo que tantas alegrias já lhe deu, segurando-lhe muitas vezes o lugar, jamais terá coragem de substituir o madeirense. Ontem, aos 65 minutos, e quando os turcos ameaçavam seriamente a baliza portuguesa, o que fez o nosso seleccionador? Pois… em mais uma das suas engenharias futebolísticas, tirou o veloz e oportuno Diogo Jota – que até tinha marcado um belo golo – e manteve em campo o inoperante Cristiano Ronaldo, como se o já desgastado “melhor do mundo” ainda tivesse, naquela altura do encontro, alguma coisa para dar à selecção.

Aliás, as capas dos jornais de hoje falam por mim: só o Record e o Correio da Manhã se atreveram a destacar nas suas primeiras páginas o crónico herói nacional – os outros fugiram à habitual promoção do grande jogador que ontem não passou de medíocre. Ou pior…

Também a Lusa, que publica 83 fotografias relativas ao jogo, algumas delas (poucas) do público e do ambiente que se viveu no Dragão, oferece-nos 15 fotos do Ronaldo – do Diogo Jota publica nove fotos e do Otávio, que terá sido o melhor jogador em campo, apenas surgem sete, isto é, dois dos melhores elementos do jogo de ontem mereceram pouco mais do que metade das fotos tiradas pelos fotógrafos de uma agência de notícias que deveria relevar o que aconteceu de mais importante no encontro, em vez de procurarem instantâneos que nada têm a ver com o futebol – são fotos do Ronaldo sentado na relva, são expressões do craque, isolado, como se estivessem a fotografar uma estrela de cinema, apanhada desprevenida por um qualquer paparazzo das revistas cor-de-rosa!

Elogiar quem merece, criticar quem o justifique – é apenas disso que se trata, já é tempo de jornalistas e comentadores o entenderem e o fazerem abertamente. Sem medos, apenas com verdade.

DANIEL SANTOS

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