“TER DE” OU “GOSTAR DE” ATURAR O MARCELO…

por DANIEL SANTOS
14 de Novembro 2020

Para Hamlet, ser ou não ser era a questão – e para Marcelo “ter de” ou “gostar de” parece ser também a grande dúvida que a brilhante mente de Sua Excelência se apressou a explicar aos amigos e respeitosos repórteres que não lhe largam a braguilha.

Parece-me que, mais uma vez, o Presidente da República terá perdido uma boa ocasião para ficar calado! Sua Excelência, quando questionado sobre a solução que a direita encontrou para tirar o poder ao PS do amigo Costa, deveria ter sido mais Presidente e menos comentador, apenas lhe competia informar aquela rapaziada sedenta que o perseguia, e os Portugueses em geral, que constitucionalmente nada poderia fazer quanto a esse facto consumado – tal como Cavaco o havia feito quando Costa encontrou solução idêntica depois de ter perdido as eleições nas urnas!

Mas não… a incontida verborreia presidencial obriga sempre a acrescentar qualquer coisinha ao que é perguntado a Sua Excelência – nem sempre, bem o sabemos, pois quando o assunto é mais delicado e poderá beliscar o bonacheirão primeiro-ministro, tirando-lhe o irritante sorriso das beiças, Marcelo remete para a Justiça, para as polícias, para os tribunais, para a Constituição, para a União Europeia, para o Papa ou para a maluquinha de Arroios os comentários e opiniões que lhe são requeridos. Sabe-a toda, Sua Excelência, foram muitos anos a virar frango nas televisões, hoje assando uns no seu analítico espeto, amanhã estorricando outros nas suas incendiadas apreciações.

Singularmente, porém, a esquerda grita e espuma alegando que Marcelo terá ficado contente com o acordo assinado nos Açores, enquanto alguma direita – finalmente o país encontrou a sua direita caviar! – também se mostra hipocritamente ofendida por um tal Ventura ter sido incluído naquele acordo regional, alguns sociais-democratas já pedem a cabeça de Rui Rio, enquanto outros, os mais aficionados pela tauromaquia, certamente se contentariam com orelhas e rabo do seu líder, um especialista em dar no cravo e na ferradura e que corre o risco de um dia destes ser também considerado um hábil político e um chico ainda mais esperto do que aquele que há cinco anos nos vem trapaceando!

É óbvio que Marcelo ficou desagradado com aquele entendimento da direita açoriana. Sua Excelência, que conta já com os votos da maioria dos apoiantes do PSD e do CDS, e de muitos socialistas que preferem ignorar a desbragada gente da casa, não verá com bons olhos esta intromissão do Chega na coutada por onde têm cavalgado os garanhões sociais democratas e as pilecas em que os democratas cristãos se foram transformando – não é preciso ser um politólogo de lugar cativo nas nossas televisões para perceber que Marcelo está apreensivo com o crescimento dos apoios a Ana Gomes e a André Ventura, pelo que esta sua infeliz tirada do “ter de” ou “gostar de” apenas veio demonstrar que, se a Constituição o permitisse, Sua Excelência não teria qualquer dúvida em vetar, porque mais não poderia fazer, a solução que os eleitores da Região Autónoma dos Açores entenderam ser a que melhor servirá a região.

É assim a Democracia, caro Presidente – eu também tenho de levar consigo embora não goste de si, Sua Excelência tem de se aguentar à bronca e não manifestar publicamente os seus gostos e desgostos políticos, não é para isso que lhe pagamos, não foi para isso que o elegeram!

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