Catacumbas de Londres dão lugar a peça de teatro português e multicultural

O espectáculo “Limbo”, produzido em Portugal com actores de quatro nacionalidades incluindo a apresentadora de televisão Filomena Cautela, vai estar em cena amanhã e quarta-feira no Festival Vault, realizado nas catacumbas dos caminhos de ferro de Londres.

Tendo pensado apresentar o espectáculo em espaços não convencionais, a encenadora Sara Carinhas considera adequado ter como palco uma sala subterrânea debaixo de um viaduto de tijolo, perto da estação de Waterloo.

Ao longo das décadas, estas galerias tiveram vários usos, como mortuárias, em meados do século XIX, para guardar os cadáveres antes de serem transportados para um cemitério fora da capital, depois como abrigo antiaéreo, durante a Segunda Guerra Mundial, e mais tarde como armazéns.

Em 2012, o Festival Vault surgiu como um evento único para ter lugar nas galerias subterrâneas que estavam desaproveitadas, e o sucesso fez com que se repetisse e as catacumbas passeassem a acolher concertos, teatro, bares e festas.

No ano passado, o festival recebeu 428 espectáculos, envolvendo mais de 2.000 artistas e atraindo 80 mil pessoas, mobilizando um orçamento superior a um milhão de euros.

“Limbo” vai ser apresentado na sala Cavern, um espaço estreito, com capacidade para apenas 94 pessoas, e que Sara Carinhas considera ajustar-se à ideia de estar próximo e interagir com a audiência.

“Foi criado para espaço não convencionais, que não são normalmente usados para espectáculos, com uma dimensão difícil, mas que permitem criar uma relação com audiência e criar desconforto”, disse a encenadora à agência Lusa.

Em Portugal, estreou no ginásio de A Voz do Operário, em Lisboa, em Janeiro, e depois foi apresentado no sub-palco do Teatro Municipal do Porto, ambas com lotação esgotada.

Inspirado no drama dos migrantes e refugiados que atravessam o Mar Mediterrâneo até à Grécia em barcos frágeis, o espectáculo é protagonizado por cinco actores, que fazem improvisações a partir de histórias de vida, relatos de violência e traumas de recolhidos e trabalhados durante um ano de pesquisa e residências artísticas.

Os actores, com percursos e nacionalidades diferentes, nomeadamente de Lisboa, Paris, Roma e Luanda, reflectem nas suas próprias experiências, num registo que varia entre a realidade e a ficção, recorrendo aos repectivos idiomas.

“O guião adapta-se a cada sítio, joga com os espaços. Curiosamente, o inglês passou a ser a língua que une os actores, mas desta vez não vamos usar legendas. Não perceber a língua é uma outra forma de criar desconforto à audiência, que faz parte do limbo com que os migrantes se defrontam”, explicou.

Sara Carinhas vai, excepcionalmente, entrar em cena nestas duas apresentações que junta actores com formações diversas, desde a dança à ‘commedia dell’arte”, incluindo Filomena Cautela, que fez carreira como actriz antes de se afirmar recentemente como apresentadora de televisão.

“O espectáculo tem um pouco de cada um deles, e o papel de Filomena Cautela incorpora parte da sua personalidade [como apresentadora de televisão]”, garante a encenadora.

Criado em coprodução com o São Luiz Teatro Municipal e o Teatro Municipal do Porto, com financiamento público da Direcção-Geral das Artes, “Limbo” tem confirmadas mais duas apresentações este ano, em Torres Novas e Vila Real.

A edição deste ano do Festival Vault, em Londres, começou a 28 de Janeiro e decorre até 22 de Março.

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