Boris pode contribuir para o fim do Reino Unido
Muitos são os políticos, conservadores e trabalhistas, inclusive antigos primeiros-ministros como John Major e Tony Blair, que acreditam que Boris Johnson seja o último líder de um Governo do Reino Unido. Na sua ideia, se o novo executivo insistir numa saída da União Europeia (Brexit) sem acordo, tanto a Escócia como a Irlanda do Norte abandonarão a união e será o fim do Reino Unido.
Por isso, uma das primeiras visitas de Johnson como primeiro-ministro foi precisamente ao País de Gales, Irlanda do Norte e Escócia. Mas os resultados não foram os esperados e a manutenção da união não é assim tão simples.
O governante argumentou na sua visita aos parceiros do Reino Unido, que quer evitar uma saída da União Europeia sem acordo e prefere um novo acordo – só que isso só será possível se a Europa voltar à mesa de negociação e abdicar do recuo da fronteira física da Irlanda do Norte para o continente britânico (backstop).
Só que a a Europa se tem constantemente recusado a fazer isso – e Boris responde que nesse caso, o Reino Unido sairá da UE sem um acordo no final de Outubro.
E esta é a estratégia de todo o seu Gabinete. Uns pensam que isso forçará o bloco europeu a renegociar para chegar a um acordo; outros defendem que um não acordo é a opção correcta para honrar o resultado do referendo.
Só que esta é uma estratégia que não agrada em Edimburgo, Cardiff e Belfast.
A primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, disse que a abordagem do governo do Reino Unido é “perigosa” e acha que o novo primeiro-ministro colocou o Reino Unido no rumo do Brexit sem acordo.
Por sua vez, o primeiro-ministro galês, Mark Drakeford, é de opinião que o resultado de uma saída desordenada seria catastrófico – e acusou Johnson de “esconder muitos dos detalhes” nas negociações.
A líder do Sinn Fein, Mary Lou McDonald, da Irlanda do Norte, também expressou as suas preocupações nas negociações em Belfast – embora o Partido da União Democrática (DUP) apoiasse alguns dos planos de Johnson, como a abolição do recuo da fronteira e a negociação de um novo contrato.
O primeiro-ministro diz que é um defensor apaixonado da União e que está determinado a fortalecer o Reino Unido enquanto estiver no cargo. Mas alguns dos conservadores não são da mesma opinião e acham que um Brexit sem acordo pode destruir a união – e esta semana ouvimos esse argumento de sindicalistas e nacionalistas.
Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia, acredita que o apoio à independência pode aumentar depois de um Brexit sem acordo – e algumas sondagens aproximam a vontade de voto a 50%. O professor de Política, John Curtice, afirma que recentes pesquisas elevam para 48% o apoio à independência – dos 45% que votaram a favor em 2014.
Na Irlanda do Norte, houve uma discussão sobre a perspectiva de um referendo sobre a reunificação irlandesa. O Sinn Fein argumentou que a edificação de uma fronteira entre as duas Irlandas não pode fazer parte de qualquer acordo – mas o DUP disse que Johnson concordava com isso, acusando alguns de criar “histeria” em torno do assunto.
O mais surpreendente talvez tenha sido o primeiro ministro galês, Mark Drakeford. A independência no País de Gales ainda é um nicho político muito reduzido, com apoio abaixo de 20% nas pesquisas.
Mas Drakeford disse ao Sr. Johnson que a questão estava ganhando cada vez mais força como reacção ao Brexit. O governante do País de Gales acrescentou que nunca, nos seus 64 anos de vida, viu a União tão ameaçada.
Mas ainda mais surpreendente foram as declarações da líder conservadora na Escócia, Ruth Davidson, que deixou claro a Johnson que não o apoiará se ele optar por um Brexit sem acordo.
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