Devemos preocupar-nos com a nossa água potável? Os especialistas alertam para o facto de que, embora os sistemas de tratamento de água do Reino Unido removam eficazmente as bactérias e os vírus nocivos, não conseguem eliminar de quantidades de vestígios de “químicos eternos” – ligados ao cancro, à doença de Parkinson e a problemas de fertilidade. No entanto, a utilização de filtros simples em casa pode reduzir significativamente a exposição, informa a Sky News.

PREOCUPAÇÃO PÚBLICA CRESCENTE COM A SEGURANÇA DA ÁGUA

Um estudo global de 2023 revelou que 52% das pessoas em 141 países receavam ser prejudicadas pelo consumo de água potável que bebiam no há dois anos. No Reino Unido, mais de 20% expressaram essa preocupação, com a confiança nas empresas de água a cair drasticamente.

Louise, uma enfermeira de 34 anos do Serviço Nacional de Saúde da Grande Manchester, disse à Sky News que a segurança da água é uma “preocupação pessoal” há anos.

“No meu trabalho, lido com bactérias como a E. coli e o norovírus – saber que podem vir da água é assustador”, disse. Gastou centenas de euros em sistemas de filtragem para aliviar os seus receios.

Da mesma forma, Claire, 50 anos, de Cheltenham, passou a utilizar água filtrada após o diagnóstico de cancro do seu pai. Um consultor aconselhou pequenas mudanças no estilo de vida, incluindo evitar a água da torneira. As suas preocupações aumentaram depois das cheias de 2007, em Gloucestershire, terem deixado a sua zona sem água potável durante semanas. “O cheiro a químicos das torneiras era inacreditável”, recorda.

A AMEAÇA SILENCIOSA DA “ QUANTIDADE DE QUÍMICOS”

As substâncias per e polifluoroalquílicas (PFAs) são substâncias químicas quase indestrutíveis utilizadas em produtos como panelas antiaderentes, cosméticos e embalagens de alimentos. Um estudo da Universidade de Birmingham encontrou PFAs em 99% das amostras de água da torneira e engarrafada do Reino Unido.

Ao contrário de agentes patogénicos como o cryptosporidium- que causou um surto em Devon no ano passado – os PFAs representam riscos para a saúde a longo prazo, incluindo: cancro, doença de Parkinson, redução da fertilidade e enfraquecimento da resposta a antibióticos e vacinas.

“Os produtos químicos usados consistentemente são assassinos silenciosos”, afirmou a Professora Luisa Orsini, uma importante cientista ambiental. “Causam danos mesmo em doses muito baixas.”

REGULAMENTAÇÃO BRITÂNICA ATRASA-SE

Enquanto a UE e a Escócia impõem um limite de 0,1 microgramas por litro para os PFA, a Inglaterra e o País de Gales baseiam-se em diretrizes voluntárias. Os EUA estabeleceram um limite mais rigoroso (0,4 nanogramas por litro), mas o Reino Unido ainda não o seguiu.

Cinquenta cientistas, incluindo o Prof. Orsini e o Dr. Mohamed Abdallah, insistiram com o governo a impor limites legais. Está atualmente em discussão um projeto de lei interpartidário, mas os críticos dizem que a ação tem sido demasiado lenta.

COMO SE PROTEGER EM CASA

Os especialistas recomendam filtros à base de carbono (como os jarros Brita ou sistemas debaixo do lava-loiça), que removem a maioria dos PFAs e outros contaminantes.

• Filtros de jarro: £20-£50
• Sistemas debaixo do lava-loiça: £100-£350
• Osmose inversa: Mais caro, mas remove todas as impurezas (embora também retire os minerais benéficos).

A água a ferver mata as bactérias, mas NÃO remove os PFAs.

A ÁGUA ENGARRAFADA É MAIS SEGURA?

Raza, 26 anos, de Londres, mudou para água engarrafada após problemas renais. “Ajuda-me a controlar a ingestão”, disse ele. No entanto, os especialistas alertam:

• A água engarrafada tem os mesmos limites de PFA que a água da torneira.
• Os microplásticos nas garrafas representam outro risco.
• A água da torneira é objeto de testes mais rigorosos.

“A água da torneira filtrada é a opção mais segura”, sublinhou o Prof. Orsini.

RESPOSTA DO GOVERNO

Um porta-voz da DEFRA (a DECO britânica) afirma que a água da torneira do Reino Unido cumpre “padrões excecionalmente elevados”, mas os ativistas exigem regulamentos mais rigorosos em matéria de PFA.

Para já, a filtragem doméstica continua a ser a melhor defesa contra estas ameaças invisíveis. (Com a Sky News, e reportagem adicional de João de Noronha, As Notícias)