Europa: A UCRÂNIA SUSPENDE O TRÂNSITO DE GÁS RUSSO E O RESTO DA EUROPA PAGA O AUMENTO DO CUSTO DA ENERGIA

A Europa está a preparar-se para um forte aumento dos custos de energia, depois da Ucrânia ter suspendido o transporte de gás natural russo através dos gasodutos da era soviética, no passado dia 1 de Janeiro. A medida vem na sequência de ter cessado um acordo de transporte ainda ativo, com Moscovo e Kiev incapazes de negociar uma renovação no meio da guerra em curso.

O encerramento do gasoduto põe fim a uma relação energética de décadas entre a Europa e a Rússia, complicada pela anexação da Crimeia em 2014 e pelo conflito militar que começou em fevereiro de 2022. O Ministro da Energia da Ucrânia, German Galushchenko, saudou a decisão como um passo histórico, sublinhando o afastamento da Europa da energia russa.

O Primeiro-Ministro eslovaco, Robert Fico, alertou para as consequências significativas para os países da União Europeia, incluindo para o aumento dos preços do gás e da eletricidade. A Eslováquia, fortemente dependente das receitas desse transporte, enfrenta perdas financeiras, para além do aumento dos custos de importação de gás alternativo.

A rota de gás interrompida foi responsável por quase metade das exportações russas por gasoduto para a Europa nos anos anteriores. A Gazprom, o gigante estatal russo da energia, declarou que se tinha preparado para este cenário, salientando que continuava a utilizar o gasoduto TurkStream para abastecer países da Europa Central como a Hungria e a Sérvia. No entanto, a cessação marca uma mudança drástica na estratégia energética europeia da Rússia, corroendo a sua quota de mercado, outrora dominante, de 35% e encaminhando o agora excedente para a China e Ásia.

A Moldávia, que depende fortemente do gás russo, anunciou medidas para reduzir o seu consumo em um terço. A União Europeia em geral intensificou a sua procura de fontes de energia alternativas desde o início da guerra, reduzindo a sua dependência das importações russas, mas aumentando o custos que se fazem sentir em todos ao países europeus.

CONSEQUÊNCIAS ECONÓMICAS

A Ucrânia vai perder cerca de 800 milhões de dólares por ano em taxas de trânsito, enquanto a Gazprom enfrenta um prejuízo significativo de 5 mil milhões de dólares nas vendas de gás. Nos últimos cinco anos, o trânsito de gás russo através da Ucrânia caiu a pique – de 65 mil milhões de metros cúbicos (bcm) em 2020 para apenas 15 bcm em 2023. Mas é desconhecido qual q extensão do aumento de fornecimento para a China e Ásia.

A infraestrutura de exportação de gás da Rússia tem estado sob pressão desde a explosão dos gasodutos Nord Stream em 2022 e o encerramento do gasoduto Yamal-Europe através da Bielorrússia. Em 2018, as rotas combinadas entregaram um recorde de 201 mil milhões de metros cúbicos à Europa, um contraste gritante com os volumes actuais.

Os receios de novas sabotagens nas infra-estruturas energéticas europeias estão a aumentar. Os responsáveis pela segurança britânicos lançaram o alerta para potenciais ataques aos gasodutos do Mar do Norte, que fornecem 42% do gás britânico. A Força Aérea Real mantém-se em alerta na sequência de incidentes recentes no Báltico, onde navios ligados à Rússia ou aos seus aliados foram implicados em danos a condutas submarinas.

O operador norueguês de gasodutos Gassco sublinhou a necessidade de uma maior vigilância à luz das explosões do Nord Stream e do Baltic Connector em 2022 e 2023. Um ataque direcionado aos oleodutos britânicos poderia provocar graves apagões no inverno, agravando ainda mais os desafios energéticos em toda a Europa.

UM NOVO PANORAMA ENERGÉTICO

A cessação do trânsito de gás russo através da Ucrânia sublinha os impactos geopolíticos e económicos mais vastos do conflito. À medida que a Europa acelera a sua diversificação energética, a Rússia vê-se confrontada com a diminuição da influência no seu mercado outrora dominante. Para ambas as partes, as consequências assinalam uma mudança transformadora na dinâmica energética mundial, com implicações a longo prazo para a segurança do aprovisionamento e a estabilidade dos preços.

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