Numa tentativa de relançar a sua liderança, Keir Starmer, o primeiro-ministro, reconheceu a cólera da opinião pública face à decisão do seu governo cortar os pagamentos de combustível de inverno a 10 milhões de pensionistas, mas defendeu a medida como necessária para evitar uma crise financeira semelhante à que foi desencadeada pelas políticas de Liz Truss. Falando na conferência do Partido Trabalhista em Liverpool, Starmer encorajou o público a ser paciente e a confiar nas “escolhas difíceis” do seu governo, em vez de seguir um “caminho sem qualquer destino”.

Starmer sublinhou os desafios que se avizinham, afirmando que não existem “respostas fáceis” e que o caminho para a recuperação será difícil. Culpou o Partido Conservador pelos actuais problemas económicos e sociais, incluindo as finanças públicas em dificuldades e as prisões sobrelotadas. Apesar do caminho difícil que tem pela frente, encorajou os apoiantes do Partido Trabalhista a orgulharem-se dos progressos alcançados e a reconhecerem que o seu governo está apenas a começar o seu trabalho de transformação.

O discurso de Starmer foi proferido antes de uma votação crucial sobre os pagamentos de combustível para o inverno, com os sindicatos a manifestarem o seu descontentamento. Starmer garantiu que “não haverá regresso à austeridade conservadora” e comprometeu-se a proteger os trabalhadores. No entanto, insistiu que mostrar ao mundo que o Reino Unido não financia corretamente as suas políticas, como fizeram os conservadores, seria um risco demasiado grande para correr.

Argumentou que, com o Partido Trabalhista, todos os pensionistas estariam em melhor situação, citando o compromisso do partido com o aumento anual da tripla opção da pensão do Estado. Apesar de ter sido interrompido por um dos intervenientes, Starmer manteve a compostura, sugerindo com humor que o interveniente “tinha um passe para a conferência de 2019”.

Starmer anunciou várias iniciativas políticas, incluindo a criação da GB Energy em Aberdeen, o combate à fraude em matéria de subsídios para poupar 1,6 mil milhões de libras em cinco anos e a redução da migração líquida através da formação de trabalhadores britânicos em vez de recorrer a mão de obra estrangeira. Prometeu também introduzir a Lei de Hillsborough para impor o dever de sinceridade aos funcionários públicos e garantir alojamento a todos os veteranos necessitados.

O discurso seguiu-se a um período difícil para o Partido Trabalhista, marcado por críticas sobre as prendas recebidas por figuras de topo, incluindo Starmer, e pelo descontentamento em relação à supressão dos pagamentos do combustível aos reformados durante o inverno. Apesar destas questões, Starmer manteve-se concentrado nos seus objectivos a longo prazo, afirmando que o trabalho de mudança tinha apenas começado.

Reflectiu sobre os desafios de liderar durante a pandemia da COVID-19 e partilhou anedotas pessoais para se relacionar com o seu público. Starmer reconheceu o cansaço do público em relação à política, particularmente à luz da atual crise do custo de vida. Delineou o seu plano tripartido para o futuro: estabilizar a economia, corrigir as fundações e construir uma Grã-Bretanha que reflicta o orgulho e a ambição do seu povo.

Starmer não se desculpou pelas decisões difíceis que se avizinham, sublinhando a necessidade de honestidade quanto às soluções de compromisso necessárias para enfrentar os desafios do país. Sublinhou que as escolhas difíceis, como a construção de novas prisões e a concessão de asilo a alguns migrantes, eram necessárias para atingir objectivos a longo prazo, como redução de preço da eletricidade e o aumento da habitação própria.

Concluiu reiterando o seu compromisso de reformar os serviços públicos, melhorar o crescimento económico e dar às comunidades mais controlo sobre as suas vidas. A mensagem de Starmer foi clara: o caminho para a renovação nacional será difícil, mas com determinação e as decisões corretas, um futuro melhor está ao nosso alcance.

Apesar dos recentes contratempos, incluindo a queda das audiências pessoais e as críticas sobre a forma como lidou com várias questões, Starmer procurou tranquilizar o público de que o seu governo estava concentrado em apresentar resultados tangíveis. Exortou o país a julgar o seu governo pelas suas acções e não pelas suas palavras, prometendo que a “luz ao fundo do túnel” não está longe se forem tomadas as decisões certas.